Tecnologia na Educação: Aliada ou Rival?

Quarta, 08-11-2021

por Adriano Freitas

É comum vermos propagandas de escolas regulares, escolas técnicas e até universidades que se orgulham em apresentar laboratórios de informática ou robótica como sendo a solução para os problemas educacionais. Mas será que só isso é o suficiente?

Trabalho com tecnologia a mais de 30 anos e sempre atuando e me especializando também em educação (técnica e regular) e neurociências, bem como desenvolvendo pesquisas e softwares educacionais. Posso afirmar com toda convicção que a tecnologia pode ser uma ferramenta fantástica para a educação, mas por outro lado pode ser extremamente danosa para o processo de aprendizagem.

Devemos ter em mente que a tecnologia muitas vezes substitui diversas atividades que são fundamentais para a aprendizagem, dentre elas a escrita manual, a compreensão e produção de textos com poder de síntese.

É fato que nosso cérebro, segundo as neurociências, possui uma tendência a nos manter em zonas de conforto, buscando sempre resultados satisfatórios com o menor esforço possível bem como a dificuldade em lidar com muitas alternativas para algo. A tecnologia entra aí, oferecendo todas as condições para facilitar ainda mais a acomodação e a dificuldade na tomada de decisões. Para citar apenas alguns desses facilitadores temos pesquisas na internet com incontáveis resultados, ferramentas de cópia, respostas “mastigadas” às perguntas que são colocadas, dentre outras.

Atualmente os alunos fazem pesquisas utilizando-se da internet e de um copiar-colar que de textos que geralmente nem são lidos e compreendidos por completo, sem contar que a escrita manual de textos fica em segundo plano e são feitos apenas quando exigido, mesmo assim, de forma bem ineficiente.

Devemos ter em mente que para que a tecnologia seja bem aproveitada pela educação, é necessário muito mais do que um belo laboratório: são necessárias pessoas!

Profissionais de educação em conjunto com profissionais de tecnologia devem separar de forma clara as atividades que são danosas e as que estão benéficas ao aprendizado e então desenvolver atividades e ferramentas tecnológicas específicas, para aproveitar tudo de bom que a tecnologia pode oferecer, sem regredir em outros pontos.

Trabalhos de pesquisa, por mais que tenhamos tecnologia, devem permanecer sendo escritos à mão e o texto precisa ser uma síntese dos conteúdos, um texto próprio baseado na leitura e compreensão dos textos pesquisados e não uma “colcha de retalhos” formada por cópias de parágrafos de outros textos.

Quanto às atividades pedagógicas, se faz necessário que existam programas de computador adequados para promover o raciocínio dos estudantes, compreensão dos conteúdos, o senso crítico e a construção do conhecimento. Jogos com perguntas e resposta e outros milhares disponíveis no mercado, apesar de bonitos e teoricamente bacanas, muitas vezes são feitos por desenvolvedores que nem sempre possuem todo conhecimento sobre os mecanismos de aprendizagem humana, o que faz com que se tornem muito mais ineficientes do que programas específicos, feitos por quem de fato conhece do assunto.

Lamentavelmente o que observo em instituições de ensino regular, técnico e livre, principalmente as privadas, é a preocupação com o investimento em equipamentos e posteriormente em um belo “marketing”, que é colocado acima mesmo dos profissionais que na verdade serão os determinantes para a eficiência ou não do trabalho.

A tecnologia não é vista como área que necessita de investimentos constantes não apenas em equipamentos, mas em desenvolvimentos, contando com equipes de profissionais multidisciplinares, englobando especialistas em educação, tecnologia e até áreas complementares como a neurociência. É comum que eu veja processos seletivos para profissionais de cursos diversos nos quais aqueles que possuem um bom currículo não são contratados por questões financeiras (se investe em equipamentos, mas não em pessoas), sendo a busca sempre por estagiários, pessoas recém formadas e sem experiência no setor e profissionais mais “baratos”. Claro que pessoas que ainda não possuem a experiência precisam de oportunidades e podem apresentar ótimas soluções, porém, não se pode apostar apenas nisso. Se faz necessário profissionais qualificados para que a tecnologia seja de fato bem aproveitada e não cause danos no aprendizado.

   

Adriano Freitas é formado em Sistemas de Informação com
duas pós graduações em áreas ligadas às Neurociências,
programa de estudo completo em Harvard e é servidor efetivo da
Universidade Federal Fluminense

 



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