Aproveitando todo o clima natalino e de fim de ano, sob o qual as pessoas dizem reavaliar suas vidas, traçar novas metas, etc., aproveito para fazer uma análise do que penso ser um caminho que a cada dia se torna mais irreversível rumo à desgraça da humanidade. Sei que muitos falarão que estou sendo pessimista em excesso ou crítico demais, mas no meu entender, a idiotização da humanidade é uma realidade, que tem se mostrado cada vez mais sólida em todas as áreas: Educação, Defesa da Natureza e Animais, Vida em Sociedade, etc. Falarei um pouco do que tenho observado e penso sobre isso...
por Adriano Freitas
Uma vez ouvi um trecho de uma canção que diz "Dar somente aquilo que te sobra nunca foi compartilhar...". Tenho visto muitas pessoas em redes sociais se auto promovendo por coisas que são legais, correto, mas não são nenhum (aliás, estão longe de ser) fenômeno de bondade, caridade, dedicação, compartilhamento ou qualquer outra palavra similar que queiramos usar. O "compartilhar", o "defender uma causa", o "se doar" está muito mais além do que usar o tempo que lhe "sobra" ou distribuir coisas que de outro modo iriam para o lixo ou ainda usar um dinheiro que sobrou e que poderia ser usado para ir a um cinema ou "balada"... Compartilhar, como a palavra mesma diz, é dividir, é repartir. Façamos uma auto-crítica: quando usamos nosso precioso tempo para defender uma causa social ou ambiental, dividindo o tempo que temos igualmente entre tais causas e nossos afazeres diários? Arrumamos nossa agenda e encaixamos atividades de cunho social e ambiental com a mesma garra que damos jeito para ir a uma reunião de trabalho? Estamos realmente nos doando? Dividindo? Compartilhando? Vejo inúmeras pessoas defendendo causas de forma acirrada nas redes sociais, mas é só o que fazem! Podemos considerar essas pessoas ativistas, preocupadas com as causas que defendem? De forma alguma! São os novos "Ativistas de Redes Sociais", que defendem, xingam, brigam até o momento que precisam se doar, e quando este momento chega, nunca podem! Sempre possuem outras atividades "mais importantes" ou compromissos que os impedem. Esperam que os outros façam aquilo que eles, enquanto cidadãos deveriam fazer. Pior, não podem assumir no mundo real aquilo que falam no virtual. Pessoas que possuem dois ou mais discursos, usando aquele que é mais conveniente (pessoalmente falando), a cada momento. Pessoas que são incapazes de se posicionar e assinar embaixo: "não posso senão me prejudico no trabalho", "não posso senão ficarei mal vista", "não posso porque...". Ora! Faça-me o favor! Como querem se dizer defensoras de causas sociais dessa forma? Aí, o que fazem é sempre tão pouco, que quando "podem" fazer algo realmente útil porque lhes SOBROU tempo, dinheiro ou materiais, por menor que sejam, se consideram a Madre Teresa de Calcutá e montam um verdadeiro circo de auto-promoção. O sucesso ou não de determinada atitude considero menos importante do que o esforço e a doação envolvida na mesma. Se o que se faz dá ou não resultado é relativo, mas a dedicação, o esforço e o envolvimento, certamente farão toda diferença!
O incrível disso tudo é que mesmo entre os religiosos o discurso é sempre duplo: Muitos vão às igrejas, falam de amor, de doação, de compaixão. Mas o que fazem em suas vidas? ABSOLUTAMENTE NADA DO QUE PREGAM. Se doar realmente? Um percentual muito baixo. Passar tardes inteiras em hospitais, colocar a "mão na massa" em ações de amor e altruísmo? Pedir demais!
Quanto aos políticos e gestores públicos, estou cada dia mais desacreditado. Uma podridão onde mais valem os interesses pessoais, as demonstrações de poder do que o cuidado com o bem comum. Importante é ganhar votos, é usar as pessoas, é impedir que outros façam algo de bom porque tais coisas encobririam a mediocridade do que não se faz enquanto gestor público. As palavras de ordem são "eu fiz", "eu faço", "eu farei" e não "podemos fazer juntos", "eu apoiarei", etc.
Enquanto educador, tenho observado uma relativização excessiva de tudo e de todos. Não posso mais pedir que um aluno vá ao quadro para solucionar uma tarefa (afinal, posso constrangê-lo, e não ele próprio com sua falta de interesse e de estudo), não posso mais dizer que ele não alcançou os objetivos da disciplina (devo elaborar uma atividade de recuperação que leve em conta suas "diferenças" - ou seja, o que ele não teve interesse em estudar). Não posso mais cobrar com rigor trabalhos a serem feitos em casa, afinal, devo considerar que ele pode não ter tempo de fazer (mas eu tenho que ter tempo de "mastigar" tudo para ele através de materiais que se recusam inclusive a copiar do quadro). Claro que exceções existem, não é sensato exigir de um aluno com autismo, por exemplo, tais coisas, mas por que não exigir um mínimo de objetivo de um aluno que não faz outra coisa na vida além de estudar e não possui limitação alguma para isso? São alunos que não demonstram o mínimo de respeito. Não existe situação mais frustrante para qualquer professor do que entrar em uma sala e perceber que por mais que se esforce, a grande maioria não está nem aí para o que está sendo ensinado, tudo é mais importante: Facebook no celular, whatsapp e afins então, nem se fala! E detalhe, isso mesmo em cursos preparatórios para provas e concursos, ou seja, querem melhorar de vida ou profissionalmente sem esforço. Querem que o professor pelo simples fato de ele estar em sala o capacite, mesmo que ele nada tenha que fazer para isso! É um misto de desrespeito, falta de interesse e de objetivos de longo prazo. Pedir para ler um texto qualquer é um sacrilégio! Escrever então, pra que se posso colocar num datashow e eles muito comodamente podem fotografar usando os celulares? Só que estudos científicos mostram que o copiar, o escrever, o ler, os desafios de serem arguidos aguçam o foco e ajudam na assimilação. E os pedagogos de plantão (não todos mas uma maioria), que regem nosso sistema educacional, aplaudem os novos métodos e todo esse relativismo, onde falta pouco (e em alguns locais nada) para o professor apanhar em sala e os alunos serem aplaudidos por isso. Dar uma nota baixa (pelo simples fato do aluno não ter interesse ou esforço algum) é correr o risco de ter pais e parentes e até direção de escolas lhe pressionando e em alguns casos até lhe processando! Façamos uma análise crítica: Como são os alunos de hoje e como eram os de 2 gerações passadas? Quais os resultados de eficiência prática que esses novos métodos pedagógicos extremamente relativistas têm mostrado? Se fossem tão bons assim, não estaríamos presenciando a desgraça educacional na qual o país se afunda. Alunos com curso superior que sequer sabem o básico e trivial da profissão que escolheu, muito mal conseguem ler e entender um pequeno texto técnico.
Voltando a falar da população de um modo geral, posso dizer que estamos virando uma sociedade de analfabetos funcionais! Ler e entender o que se lê, passa a ser atribuição de intelectuais ou pessoas consideradas mais cultas. Com o uso das redes sociais, o processo de idiotização tem se acelerado: informações são divulgadas sem nenhum critério quanto à sua veracidade... Pessoas se pronunciam e se posicionam lendo apenas o título do que é postado. Ler textos como esse? nem pensar! Garanto que a maioria que tentou ler sequer chegou até este ponto! As pessoas perderam a capacidade de conversar e se entender. Pensar diferente é motivo para inimizades. Falar que não concorda com o outro é arrumar uma briga ou um mal estar pessoal, mesmo que sejam ideias não pessoais.
Uma sociedade que se vangloria em doar pão velho, roupas rasgadas e desgastadas, um ou dois comprimidos que restam no fundo de uma caixa prestes a atigir a data de vencimento, ir a uma reunião por uma causa social ou ambiental QUANDO SOBRA UM TEMPINHO E COINCIDEM OS HORÁRIOS e ao mesmo tempo se gasta 3000,00 na compra de um celular parecido com o anterior, só que um pouco mais rápido, 500,00 em uma calça que está na moda neste verão, não se deixa de ir a um show, um restaurante ou balada no sábado à noite, não se auto classificar como uma sociedade caridosa ou que segue os princípios do amor e respeito ao próximo.
Estamos virando uma sociedade de idiotas, onde mais vale o EU, os MEUS INTERESSES do que o planeta e a sociedade em que vivemos. Quero garantir o meu, o resto que se dane! Essa é a lei. Meu jantar é mais importante do que uma reunião para definir ações que visam o bem comum! Natureza? Animais? São inferiores, humanos é que são importantes... Caminhamos para um mundo que se destrói a cada dia por causa do EGOÍSMO.
Que os cristãos se tornem realmente cristãos e aprendam o verdadeiro sentido de COMPARTILHAR, SE DOAR...
Que os que não são cristãos sigam as filosofias e crenças que quiserem, sem discriminações ou pré-julgamentos, mas sempre lembrando desses mesmos princípios, básicos e universais:
Estamos em uma mesma casa, somos uma mesma família, devemos cuidar dela e uns dos outros!
Que tal aproveitarmos essas datas e reciclarmos nossas atitudes?
Adriano Freitas é formado em Sistemas de Informação com
duas pós graduações em áreas ligadas às Neurociências,
programa de estudo completo em Harvard e é servidor efetivo da
Universidade Federal Fluminense