Somos um país de perdedores?

por Adriano Freitas

É comum ver reclamações de nossa população acerca de preços de produtos e serviços, impostos e tudo que encarece diretamente nosso custo de vida, porém, um olhar mais atento nos faz perceber que talvez de todas as perdas que temos sofrido, essas são as menores. Existem situações que vão além: enganam, induzem a erro, ignoram direitos. Neste caso não são aumentos de preço pura e simplesmente: escondem a má fé de empresas, departamentos de marketing e até comerciantes, pois adotam medidas que burlam legislações e enganam, sem pudor.

É fácil perceber em uma breve visita ao mercado produtos que vão sendo alterados em suas composições originais, deixando de ser aquilo que eram. Hoje temos creme de leite que não é creme de leite, leite que é soro de leite, manteiga que não é manteiga, leite condensado que é mistura láctea, biscoito de mel que não tem mel e por aí vai. Muitas dessas mudanças são feitas de forma muito disfarçada e em vários casos não nos atentamos a elas (imagine boa parte da população sem o grau de instrução adequado, sem dinheiro para se dar ao luxo de escolher, etc.!). Além de um engodo institucionalizado, temos aí situações que em alguns casos podem interferir na saúde dos consumidores e em outra na qualidade final do que se tem. Hoje, por exemplo, o sabor de um biscoito recheado de boa marca, não chega perto do sabor que se tinha a alguns anos atrás. A mudanças não são bruscas, vão sendo feitas gradualmente e acabamos não nos dando conta.

Outra situação que não representa um aumento direto de preço mas geral um aumento até maior no custo de vida é a reduflação, que é a prática de reduzir embalagens e quantidades mantendo o valor igual ou próximo ao que era. Voltando ao exemplo do biscoito recheado, tínhamos biscoitos grandes, com embalagens grandes, fartos em recheio e sabor. Hoje temos embalagens pequenas, diâmetro dos biscoitos que mais parecem uma moeda de tão pequenos e camadas de recheio que mal sentimos o sabor quando comemos, sem contar o próprio biscoito, perdendo o sabor a cada nova mudança. E assim temos embalagens de 500g que passam a ser de 400g, depois 380g, 250g... E o triste disso tudo é que ficamos "sem ter para onde correr", visto que quando uma marca faz esta redução todas as concorrentes também fazem!

Percebam que até aqui falei apenas sobre os produtos disponíveis em mercados, mas outros setores jogam ainda mais sujo: Empresas de telefonia "somem" com créditos de forma inesperada, prestadores de serviço emitem cobranças com taxas adicionais diferentes das contratadas, depois de anos surgem contas e até negativações que sequer saibamos do que se trata, grandes lojas se comprometem a entregar produtos comprados pela internet e não fazem, ou então, mediante necessidade de troca demoram dias ou as vezes até meses para agir e resolver as questões e até empresas de planos de saúde que não arcam com tratamentos mesmo que constantes em contratos.

O triste de tudo isso é que as empresas na maioria das vezes se escondem em seu marketing, que durante décadas nos fez ter a sensação de que são boas e agora façam o que fizerem seguimos comprando seus produtos, mesmo que já sem a qualidade esperada. Fazendo uso de seu poder econômico, transformam seus atendimentos em gravações e robôs que repetem sempre as mesmas informações e jamais preveem os problemas pelos quais o cliente tem passado, dificultando cada vez mais o acesso a um atendimento humano. QUANDO se consegue algum atendimento, são pessoas despreparadas e que sequer entendem a situação que está sendo explicada, sem contar que possuem autonomia ZERO para resolver o que deveriam, agindo como "robôs humanos". Resultado para os clientes: frustração, sensação de impotência, irritação e até perda da saúde (sem contar aqueles que, para felicidade geral das empresas, por falta de orientação ou de ter a quem recorrer acabam entubando os prejuízos).

O mais triste disso tudo é que as empresas que adotam este tipo de prática estão ano após ano demonstrando mais lucro em seus balanços (os bancos então... nem se fala!). Mas mesmo que a situação esteja difícil para todos, uma coisa se faz necessário: O RESPEITO. Respeito às normas, leis e ao cliente, sem "jeitinhos".  Se repararmos bem a maioria destas grandes empresas são controladas por grupos multinacionais que em seus países de origem não se atrevem a fazer com os consumidores o que fazem aqui. Por que será? Vale lembrar que existe o "LEGAL" e o "MORAL": Nem sempre o que é legal necessariamente é moral, o que temos aqui são empresas agindo dentro de uma "LEGALIDADE IMORAL".

A grande pergunta que faço tendo exposto este quadro é: A quem recorrer? Temos fiscalizações constantes, amplas e efetivas que coibem este tipo de prática? Quando enfrenta algum problema o consumidor tem a quem recorrer? Ter até tem, mas encontra solução imediata?

O que infelizmente percebo é que estamos perdendo essa guerra, somos um povo desrespeitado em todos os sentidos, até em nosso direito de reclamar, agir e ter a solução para os problemas junto a órgãos que deveriam zelar a todo custo pelos interesses da população e o mais triste é perceber que enquanto nação somos desunidos e apáticos perante o que fazem conosco, o que permite que haja cada vez mais desrespeito, onde chegaremos dessa maneira? Seremos sempre perdedores?

 

IMAGENS DO MERCADO

 

Adriano Freitas é formado em Sistemas de Informação com
duas pós graduações em áreas ligadas às Neurociências,
programa de estudo completo em Harvard e é servidor efetivo da
Universidade Federal Fluminense



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