por Adriano Freitas
Esta imagem ao lado é real. Este escrito está comigo desde 1989, quando trabalhei para a campanha de Lula. Depois, trabalhei em mais uma. Nesta campanha (a de 1989) ainda era um rapaz muito novo e, como toda pessoa iniciando sua vida, cheio de sonhos e ideais que hoje sei não serem possível: a vida me ensinou que as pessoas não mudam como se pensa. Me ensinou que acima de um país e uma nação, principalmente no Brasil, estão interesses pessoais e corrupção.
Hoje sei que uma pessoa sozinha por mais pura e honesta que seja, JAMAIS conseguirá mudar um país como achava naquela época que poderia. A vida ensina e ensina muitas vezes através de frustrações e sofrimento. Aprendi então que se não podemos mover montanhas ao menos podemos chegar até elas!
Hoje sei que viver em um país, uma comunidade, significa conviver com diferentes, em realizar trocas, trocar sonhos, adequar atitudes.
Quem me acompanhou em minha jornada certamente percebeu que mudei. De um garoto tímido e sonhador para alguém com mais sensatez e "pé no chão". Isto não significa que abandonei meus sonhos, apenas sei agora que, como já disse, não devo esperar que as montanhas se movam, mas lutar para chegar até elas, mesmo com caminhos tortuosos e cheios de pedras.
Hoje sei que erros não são evitáveis, pois fazem parte da jornada, da aprendizagem. Errei, e muito! Mas de uma coisa me orgulho: De seguir com um bom caráter e VONTADE DE APRENDER. Por mais que em algum momento errasse, algumas vezes feio, ao mesmo tempo aprendia e seguia tentando ser bom.
Nessa jornada, não é segredo que a partir de dado momento fui extremamente crítico e até opositor ao PT. Está em minhas redes sociais da época, fácil conferir. Não apaguei por entender que tudo que faço compõe minha história e minha jornada. Mudar e evoluir é para os fortes!
Mas o tempo, ahhhh o tempo.... ele ensina, ele faz com que as coisas se mostrem da forma como verdadeiramente são. E vi que em nenhum momento, como eu, os gestores foram perfeitos, muito pelo contrário, mas foram sim vítimas de um sistema cruel que sem o menor senso de coletividade atropelou tudo e todos pelo bem de um pequeno grupo.
E daí para frente foi um festival de situações das mais surreais possíveis! Uma sociedade que em sua essência já é egoísta e corrupta (onde as pessoas só pensam em si mesmas), se transformou em um festival de horrores.
E hoje, já com uma história de vida e de aprendizados, inclusive sobre nós humanos, como somos e reagimos, pude identificar nitidamente que nosso povo é composto basicamente por dois tipos de pessoas: Aquelas que por mais que errem e sejam em alguns momentos corruptas (aquelas pequenas corrupções do dia-a-dia), possuem bom caráter, empatia, visão de futuro, vontade de viver em uma sociedade mais justa e aquelas que se acham superiores (mesmo sem terem aprendido nada com a vida), possuem seus mecanismos de empatia debilitados, acham que sua pele, seu sexo, suas oportunidades na vida (condição social), suas opiniões devam ser mais importantes e sem abertura para contraditórios.
Esse egoísmo acima da média ao escolher governos com base no que é melhor para SEU NEGÓCIO, para SEU TRABALHO, para SUA VIDA e não para a vida do todo é justamente onde erramos enquanto nação. Tomamos decisões coletivas, que afetam a todos com base em conceitos individuais, quando deveríamos utilizar esses conceitos próprios apenas em decisões pessoais.Ter um olhar para o outro. Isso falta em nosso povo!
Esta situação permite que pessoas mal-intencionadas espertamente se juntem e dominem esta parcela sem empatia, adotando discursos, exemplos e atitutes de fazem aflorar tudo que o egoísmo e falta de empatia trazem de ruim: discriminações, preconceitos, homofobia, violência e tantos outros adjetivos. E esses sentimentos afloram com tal força que se perde a racionalidade, os limites (a empatia de fato, como já falei, primariamente já é prejudicada por natureza).
E para que este projeto de domínio funcione, ações coordenadas são necessárias: Cada vez mais dificultar o acesso a uma educação de qualidade (pois ela é nos salva deste tipo de comportamento), desacreditar e difamar pessoas que fazem parte do outro grupo (que com todos os seus erros pensam no outro e lutam pelo melhor para todos) e até falar em nome de DEUS. Esta difamação nos faz ver cientistas renomados e premiados sendo tratados como desqualificados por pessoas que sequer sabem o nome da área da ciência que estão atacando, professores que são heróis em nosso país serem tratados como idiotas que não conhecem história, faz um uso massivo da fé das pessoas e seu temor do desconhecido e faz com que outros políticos tenham sua honra destruída publicamente por afirmações falsas ou distorcidas, sem a menor chance de uma defesa justa. E aí entram dois elementos fundamentais: As mentiras e o dinheiro.
Um verdadeiro derrame de dinheiro para patrocinar mídias, websites de internet e outros para propagar suas mentiras e difamações que cada vez mais ganham força, travestidas com uma roupagem de honestidade, estimulando todas aquelas características que já citei.
Tudo isso divide: Divide um país, mas também divide amigos e até famílias. Gera uma nação onde parte tem toda essa percepção e outra parte se transforma em "zumbis" que repetem argumentos, em sua maioria mentirosos sem ao menos uma simples checagem, brigam e impõem suas vontades se afastando cada vez mais de tudo que as faria aprender e evoluir. Perdem o senso crítico e a capacidade de avaliar com isenção os fatos e informações.
Cientificamente eu poderia falar de várias coisas que explicariam isso: Vieses cognitivos, lobos temporais, sistema dopaminérgico mesolímbico, etc, mas na verdade tudo no final recai sobre uma coisa, que penso ser a chave para nossa evolução: A VONTADE/O QUERER. Querer aprender, querer evoluir, querer o melhor para o próximo, querer ser alguém que não olha só pra si. Não se ensina quem não está disposto a aprender (nem a vida e o tempo consegue!), não se muda quem não quer mudar!
Lamentavelmente o que vimos nesses últimos quatro anos, em especial em 2022 é um país inundado por mentiras sobre fatos e pessoas, difamações. Leis sendo descumpridas descaradamente sem nenhum pudor e freio. Uma máquina pública sendo usada de forma assombrosa para coibir, convencer e dominar. Vimos empresas e seus gestores pressionarem os trabalhadores, coagindo. Igrejas, que em teoria deveriam pregar o amor e a empatia (mas que nunca achei que o fizesse) fazendo justamente o contrário, pregando ódio, mentiras e difamações tudo em prol de um projeto de poder e dinheiro, tudo falando em nome de Deus com se fossem os procuradores dele, sendo detentores absolutos das verdades e corroborando seus discursos com frases descontextualizadas de um livro (bíblia, da qual tenho sérias restrições, mas isto é outra história...). Penso que a igreja desde seu nascimento assim se comporta, mas que agora ganha contornos sombrios e totalmente expostos.
Podem me dizer: Ahhh mas não são todas as igrejas. Algumas podem não ter agido diretamente, porém, ao pertencerem a uma mesma denominação (que possui suas associações, etc) e se calarem, são coniventes sim!
Os valores se inverteram. Vejo as pessoas de luto por um líder que promoveu tudo de ruim que podia (e olha que não estou entrando em outras questões como meio-ambiente, etc.) e nunca terem se pronunciado com um luto parecido meditante a morte de 700.000 pessoas em uma pandemia. Vejo cristãos que antes falavam "que seja feita a vontade de Deus" agora, depois de uma derrota de seus adorados, renegarem essa vontade: Essa não foi a vontade de Deus? O "Diabo" foi mais forte do que ele? Onde está o tal "poder de Deus" que afirmavam possuir?
E já começo a ver argumentos como "foi por pouco", "quase perderam", "deram sorte".... NÃO, NÃO MESMO! FOI UMA VITÓRIA AVASSALADORA!
Considero quase que como um 99% a 1%, afinal, foi uma luta desigual e desonesta, uma luta de pequenos contra gigantes em dinheiro, máquina pública, mentiras, difamações e maldades. Se com tudo isso ainda sim perderam, foi sim avassalador!
O fato de ter defendido a eleição de Lula não me torna menos críticos aos erros que virão. Isso é ser coerente consigo mesmo!
Passaram meses (e anos) espalhando mentiras e difamando os outros, (cansei de receber mensagens que seriam capazes de desanimar qualquer um de ajudar os outros), fazendo piadinhas e ironias e agora se fazem de vítimas mediante a comemoração e as ironias contrárias. Dois pesos e duas medidas, essa a tônica: O que eu faço não vale contra mim.
Tendo dito tudo que disse, torço, torço mesmo para que o tempo faça sua parte, faça a poeira baixar e que as pessoas reflitam sobre seus valores, e suas VONTADES. Que reflitam se estão de fato sendo justas, se o Deus que afirmam seguir gostariam de tudo que foi feito e que aprendam, aprendam muito com os livros mas também com a vida!
Eu, que já não sei quanto tempo me resta, agora durmo o "sono dos justos", pois sei que mesmo de forma tortuosa transmiti valores para minha filha, ajudei quem pude ajudar, aprendi o que pude aprender e compartilho esse conhecimento, além de fazer minha parte para que o país volte ao rumo do qual nunca deveria ter saído. Isso tudo sem deixar de lado minha porção criança (eu e minhas coleções de brinquedos rsr) e buscando enxergar em questões coletivas um pouco além do meu próprio umbigo.
E a você, que chegou até aqui neste texto, desejo que sempre reflita bem, pois decisões, por menores que sejam, são capazes de afetar o futuro de todo o planeta. Pense nos outros quando as questões forem coletivas e em si mesmo em questões individuais. Pense antes de buscar empreguinhos em prefeituras com políticos que te farão pagar um preço por isso, vender suas escolhas. Não hesite nem tenha medo de pensar nos outros quando a questão não for apenas sua. A VIDA (ou Deus, como queira) lhe será grata!
Adriano Freitas é formado em Sistemas de Informação com
duas pós graduações em áreas ligadas às Neurociências,
programa de estudo completo em Harvard e é servidor efetivo da
Universidade Federal Fluminense