por Adriano Freitas
Quanto mais estudo os mecanismos envolvidos com a cognição humana, mais percebo um distanciamento entre a PEDAGOGIA e os estudos da Neurociência.
O grande erro, a meu ver, está no fato de que enquanto a Neurociência procura ser uma área MULTIDISCIPLINAR, ou seja, leva em conta mecanismos fisiológicos, psíquicos, comportamentais, tecnológicos e até conceitos da pedagogia, sempre analisando tudo sob a ótica científica, a pedagogia se detém em teorias e argumentos publicados por estudiosos, mas que não necessariamente se embasam em questões fisiológicas de nosso cérebro. Assim, com base em que se pode afirmar que tal forma de "construir" o conhecimento é mais eficiente do que outra? Em estatísticas? E essas estatísticas feitas a muito tempo, incluem as novas descobertas da ciência?
Este distanciamento reside no fato da pedagogia caminhar rumo a um relativismo incompatível com alguns mecanismos cerebrais (que independem de nossa vontade e não são "relativos"). Diversas decisões no tocante à estruturação de nosso sistema de ensino e até organização de escolas privadas e públicas são feitas boa parte das vezes por pedagogos ou profissionais afins que NÃO LEVAM EM CONTA pesquisas científicas modernas sobre os mecanismos cerebrais (fisiológicos) envolvidos no processo de aprendizagem, sem contar que muitos desses pedagogos sequer possuem experiência em sala de aula como professor, mas decidem sobre como este último deve ou não realizar seu trabalho.
Decisões e reestruturações simples na organização escolar (horários, tempos de aulas, fragmentação de conteúdos, etc) certamente aumentariam (e muito) o aproveitamento dos conteúdos por parte dos alunos. Entretanto, a grande maioria das pessoas envolvidas na direção das escolas sequer se informam sobre essas novas descobertas da ciência.
Muito se critica das metodologias de ensino ditas "antigas", mas vamos então falar estatisticamente: Façam um levantamento dos jovens (hoje adultos) que concluíram o ensino fundamental/médio a mais de 25 anos e comparem seu desempenho com jovens que hoje estão nesses níveis de ensino, utilizando-de se "novos conceitos" da pedagogia, do relativismo aplicado à tudo, da complacência excessiva em diversas situações que antes não era usada. Qual geração apresentará melhores resultados? Ora, se os métodos atuais são tão revolucionários assim, não era para percebermos tão claramente uma decadência tão acentuada no aproveitamento escolar... ou era?
Lendo um livro do professor Pier (Prof. Pierluigi Piazzi), me daparei com o termo "pedagorréia". Sinceramente penso que a forma que ele usa para criticar os pedagogos é muito agressiva até, pode-se até questionar isso, mas não tiro sua razão.
A meu ver, o que realmente falta é repensar a pedagogia e recolocá-la no caminho do qual nunca deveria ter saído...
Obviamente que não quero com isso dizer que a pedagogia tradicional está errada ou não tem embasamento algum, mas apenas que ela fica "parada no tempo", ou caminhando lentamente, não se adequando aos novos conhecimentos acerca de nós mesmos. Falta aos pedagogos tradicionalistas, buscar novos conhecimentos e realmente agregá-los em seu dia-a-dia, adequando suas técnicas e teorias a esses novos conhecimentos.
Vejo muitos pedagogos que possuem uma "visão estreita" dando atenção e valor apenas ao que é compatível com sua forma de pensar. Este é o maior equívoco ao meu ver.
Penso também que o dia em que nossos pedagogos, diretores de escolas, tomadores de decisão fizerem de seus conhecimentos um saber mais amplo, agregando conhecimentos já comprovados sobre nossa forma de agir e reagir (muitas vezes involuntária) ou até mesmo buscar a assessoria de profissionais e estudiosos desses mecanismos cerebrais, ai sim teremos uma revolução em nossa educação, aumentando a eficiência de nossas instituições e, como consequência, do sistema de ensino.
No meu entender, tablets, quadros digitais e outros recursos tecnológicos estão sendo apresentados como "salvadores" da educação... GRANDE BOBAGEM! É bonito, mas na prática pouco fazem por si só! Um professor e um lápis com a metodologia compatível com nosso cérebro serão infinitamente mais eficientes do que qualquer outro recurso que o dinheiro possa comprar se usados de forma incompatível, como tem sido feito.
Encerro reproduzindo abaixo um texto do Prof. Igor Pantuzza Wildmann, Doutor em Direito, com o qual concordo e penso que deva servir para nos ajudar a fazer uma análise do que temos presenciado em nosso sistema educacional:
"Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!). A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando... E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.” Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente... Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os “cabeças–boas” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”. A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.” Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Prof. Igor Pantuzza Wildmann.
Doutor em Direito."
Adriano Freitas é formado em Sistemas de Informação com
cinco pós graduações/especializações em áreas ligadas às
Neurociências, Neuropediatria e Educação
programa de estudo completo em Harvard e é servidor efetivo da
Universidade Federal Fluminense